O que é Arte Visionária?
O que é Arte Visionária? A definição mais sucinta e de mais fácil entendimento é dizer que a Arte Visionária é o resultado de experiências de expansão de consciência retratadas plasticamente.

Ela não é algo novo, existe desde o tempo das cavernas, passou por artistas como Paolo Ucello, Arcimboldo ou Bosch no Renascimento, na arte de William Blake, esteve presente no Simbolismo, Surrealismo, Realismo Fantástico, Psicodelismo e, atualmente, com os artistas mais consistentemente se dedicando a retratar suas visões e experiências em Estados Não Ordinários de Consciência (ENOC). No Simbolismo buscou-se retratar estados emocionais, a vida interior do artista, não o real do mundo externo. No Surrealismo buscou-se o mundo do inconsciente, o mundo onírico. No Psicodelismo, o uso de psicoativos, deu início mais consistente do que culminaria na Arte Visionária atual. Uma pergunta comum é se para ser Arte Visionária, o artista precisa realizar o trabalho artístico sob efeito de alguma substância “alucinógena” como a Ayahuasca, LSD, peiote, etc. Obras de Ernesto Boccara, Rogério Teiji, Chris Dyer e Spelborea em exposição na IIª Bienal de Arte Visionária – 2015 Não propriamente. Os ENOC podem ser conseguidos de diversas formas. Práticas místico-religiosas como jejum, celibato, tantra, mantras e rezas ou cânticos muito repetitivos, músicas específicas, batidas rítmicas de tambores, entre outras, podem levar a estados de expansão da mente. A dor pode ser um elemento, os “faquires” usam essa técnica. Algumas doenças e febres que podem causar delírios ou então esquizofrenia, psicoses, tudo isso é possível de ser usado como Jung fez com alguns pacientes nos desenho de mandalas.
Naturalmente os psicoativos ou substâncias alucinógenas estão presentes e são usados pelos artistas para entrarem em contato mais rapidamente em outros estados de consciência.” A pesquisa de Antar Mikosz conta a história dos psicoativos, dando enfoque para Ayahuasca por ser uma substância não classificada como “droga” na legislação brasileira e por existirem muitas pesquisas sobre seu uso, seus aspectos médicos e seu impacto social. Segundo pesquisadores importantes do assunto como David Lewis Williams, já na arte rupestre se encontram elementos visuais conhecidos como entópticos, que atualmente, devidos a testes laboratoriais, ficaram evidenciados como produzidos em ENOC pelos “artistas das cavernas”. Porém não havia a intenção de produzir algo com o nome de “Arte Visionária“, isso só aconteceu nas décadas de 1960/70 em diante. No caso específico da Ayahuasca, o interesse por uma pesquisa envolvendo-a com a arte é o fato de ela abrir novamente questões interrompidas nos anos 1960 em relação a certas pesquisas sobre a consciência humana. A Ayahuasca, através de algumas religiões brasileiras como o Santo Daime e a União do Vegetal, possibilitaram a abertura de novas pesquisas científicas que despertam interesse no mundo todo novamente, seja pelo lado da saúde, da psicologia, antropologia ou arte. As artes, segundo Luis Eduardo Luna:
Constituem, sem dúvida, um dos instrumentos mais poderosos para o desvelamento de fenômenos tais como estados não ordinários de consciência.

Devido a isso essa associação Arte-Ayahuasca tem demonstrado ser um caminho extremamente fértil em trabalhos de pesquisa. Hoje sabe-se que os Estados Não Ordinários de Consciência não são deformações mentais, são estados genuínos de consciência que o ser humano aos poucos vai conhecendo melhor .
Antar Mikosz Pós-doutor em Belas Artes pela Faculdade de Lisboa
O Primeiro Manifesto da Arte Visionária
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“O que é arte visionária?” um amigo meu me perguntou durante uma conversa tarde da noite na Livraria Abbey em Paris. Meu interlocutor, Guy Livingston, era um músico contemporâneo, seriamente dedicado à sua arte, e sua pergunta merecia uma resposta seriamente considerada. Foi então que percebi que, apesar de ter pintado obras visionárias a vida toda, não conseguia articular facilmente o que fazia. A necessidade desse manifesto nasceu. No meio do trabalho em minhas pinturas, comecei a pesquisar e traduzir os escritos de outros artistas visionários – descobrindo que eles também tinham lutado para definir o que faziam, embora nenhuma fórmula simples aparecesse facilmente. Normalmente, às três ou quatro da manhã, eu acordava com certas frases em minha mente – ‘vendo o invisível’, ‘le sur-visuel’. E, terrível insone que sou, não voltaria a dormir enquanto não os tivesse anotado. (De fato, enquanto escrevo isso, são novamente três horas da manhã …) Tais frases, definições e até ‘uma história’ da Arte Visionária foram registradas em meus diários, aguardando o dia em que finalmente seriam organizado como um manifesto. Então, de surpresa, me vi no sul da França, estudando com o professor Ernst Fuchs, o mais velho e talvez o maior praticante de nossa arte. (Se eu tivesse interpretado corretamente certos presságios em meus sonhos, teria visto que tudo isso estava por vir …). E foi aqui, em seu estúdio no Quai des Artistes, em Mônaco, que o manifesto finalmente tomou forma, inspirado em parte pelas conversas com ele.

No entanto, deixei as palavras ‘um primeiro rascunho’ acima do título, porque não acredito que este trabalho seja definitivo de forma alguma. De fato, convido outros praticantes de nossa arte a contribuir sempre que possível – alterando o que está faltando, avançando o que está datado e criando juntos uma declaração que pode ser definitiva e completa. Se, no final, isso não for possível, e apenas consegui provocar controvérsia, discussão e debate, isso também cumpriria minhas intenções originais.
Laurance Caruana Diretor da Academia de Arte Visionária de Viena Prefácio do livro “O primeiro Manifesto da Arte Visionária” (tradução Antar Mikosz)